O POETA (por Eugene H. Peterson)
“A maioria das sociedades tem honrado os poetas por causa da importância geral das palavras. Martin Heidegger costumava chamar os filósofos de “pastores do ser”. Penso nos poetas como “pastores de palavras”, velando por elas, atando-as quando se ferem, indo ao enlaço delas quando se perdem, conhecendo-as por nome, em amor. Sempre me pareceu que os pastores, que tanta relação tem com as palavras, deviam gostar mais dos poetas. Mais da metade da nossa Escritura foi escrita por poetas. Se a forma em que algo nos chega é significativo - e é - , então a poesia e os poetas são uma força a ser considerada por qualquer pessoa que tenha a responsabilidade de transmitir a mensagem cristã de qualquer maneira, pois essa Palavra se fez carne.
A primeira coisa que o poeta faz é diminuir o nosso ritmo. Não podemos ler um poema celeremente. Os poemas precisam ser relidos. Diferentemente da prosa, que enche a página com palavras, os poemas tem muito espaço em branco, o que significa dizer que o silêncio tem o seu lugar ao lado do som como algo significativo, essencial à apreensão dessas palavras. Não podemos ter muita pressa ao ler um poema. Observamos ligações, sentimos os ritmos, ouvimos as ressonâncias. Tudo isso leva tempo. Há muito para ver, sentir, perceber. Sentamos diante de um poema da mesma maneira que nos sentamos diante de uma flor e observamos a forma, o relacionamento, a cor. Deixamos que comece a trabalhar em nós. Quando lemos prosa, muitas vezes assumimos o controle, mas no poema nos sentimos fora do controle. Lemos o mais rápido possível para obtermos o que queremos, de forma que possamos fazer bom uso dele. Se o escritor não escreve bem - ou seja, se não o podemos compreender rapidamente -, ficamos impacientes, fechamos o livro e nos perguntamos por que alguém não lhe ensina a escrever uma simples frase. Mas na poesia assumimos uma posição diferente. Somos preparados para ser aturdidos, para voltar, prantear, ponderar, escutar. Essa observação, essa oração, essa postura reverente acha-se no âmago da vida de fé, da vida de oração, da vida de adoração, da vida de testemunho. Se temos demasiada pressa em falar, cometemos sacrilégio. Os poetas nos desaceleram, os poetas nos fazem parar. Leia outra vez, leia outra vez, leia outra vez…
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